A origem das homenagens à padroeira está relacionada com a fundação do município. De acordo com estudiosos do assunto, o fundador da cidade padre João Felipe Bettendorff construiu a igreja da Missão do Tapajós e dedicou à santa, de quem era devoto.

Alguns historiadores apontam que a princípio as homenagens à padroeira dos santarenos eram conhecidas como “Círio da Bandeira”, em qual durante a procissão se levava um estandarte com uma efígie da santa - representação numa moeda, pintura ou escultura -  que percorria algumas ruas de Santarém. Tal manifestação teria dado origem ao que atualmente se chama "Círio de Nossa Senhora da Conceição".

Segundo pesquisadores e historiadores da região, o Círio como é realizado nos dias atuais, acontece desde 28 de novembro de 1919. Portanto este ano, será a 96ª edição do evento religioso.

No livro “A festa da padroeira de Santarém”, o padre Sidney Canto retrata que o Círio era esperado com ansiedade pela população da cidade. Nas primeiras horas da manhã, uma banda de música percorria as ruas da cidade e foguetes anunciavam a festa. “Com uma frondosa alvorada que, muitas vezes, era acompanhada pelo toque dos sinos das igrejas de São Raimundo, da Catedral e de São Sebastião, na época em que a zona urbana de Santarém não passava da Mendonça Furtado e da Barjonas de Miranda”, conta.

Segundo Canto, em 1957 e 1958, o Círio não teve banda de música e nem foguetes. “Isso por uma ideia do clero de que o Círio deveria ser feito apenas com oração e sem ‘queimar dinheiro com fogos’”, explica.

Canto comenta que a participação do clero na procissão da festividade começou a diminuir no período 1960 e 1980. Os padres retornaram a participar somente na década de 1990. “O Círio era visto, por alguns padres da Diocese, como ‘alienação’, ‘peleguismo’, ‘devocionismo’. A partir da década de 1990, os padres retornaram a participar da festa que passou a sair do caráter simplesmente paroquial e a ser pensada como uma festa da Diocese”.

Elementos de devoção

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Para a professora de História, Liduína Maia, um dos importantes elementos do Círio é a oração do terço. “Essa romaria do início ao fim é conduzida através da oração do terço. Isso é o que leva, o que conduz toda a caminhada”, ressalta.

A corda é outro elemento que tem um significado especial para os fiéis que acompanham o Círio. “A corda é como se fosse o cordão umbilical que liga os fiéis à Nossa Senhora. Segurar a corda é estar tocando em Maria”, compara a professora.

Liduína também destaca as homenagens que os devotos de Nossa Senhora realizam em frente às casas durante a passagem da romaria. “A homenagem mais comum e que permanece nos dias atuais é enfeitar a frente das casas, principalmente as janelas e colocar as toalhas na mesa do altar e até mesmo nas janelas, isso é um costume português que é feito até hoje”

Tradições perdidas
A professora de História acredita, que entre as perdas do Círio no decorrer dos anos, está o fato de as missas, em vários dias de festa, serem realizadas dentro da igreja, atendendo um público menor do que antigamente, quando as celebrações eram feitas em frente a igreja. “A cada festa traziam pregadores de fora que participavam da festa durante as nove noites do Círio, a comunidade ia para escutar esses pregadores. Era feito um palanque em frente da igreja matriz. Hoje a missa fica restrita dentro da igreja onde ficam menos de 30% dos fiéis que gostariam de participar dessa missa. Só no dia da caminhada do Círio e no último dia que a missa é fora da igreja. Do meu ponto de vista, é um ponto negativo, o Círio perdeu muito quando deixou de trazer os pregadores, e quando a missa deixou de ser do lado de fora da igreja, fazendo com que deixasse de ser um momento de evangelização maior”.

Segundo Liduína, o Círio Fluvial, como parte das festividades de Nossa Senhora da Conceição, perdeu um pouco de força no decorrer dos anos. “Antes, o Círio Fluvial, a manifestação de pessoas que trabalhavam no rio era muito forte. A quantidade de embarcações, a maneira como enfeitavam os barcos era uma coisa estonteante que enchia os olhos de quem via aquela devoção. Hoje, o Círio Fluvial está muito aquém do que era nos anos 70, essa tradição se perdeu muito”, avalia a professora.